No Brasil o tema plantio direto não é um tema novo, essa forma de sistema de plantio já é bem conhecido. Apesar de não ser novidade uma parte dos produtores ainda não usam o SPD (Sistema Plantio Direto) da forma como deveria ser feito, utilizando somente duas culturas (milho e soja ou soja e algodão), o que torna um sistema de sucessão e não de rotação, pois para ser considerado SPD deveria ter mais de duas culturas trabalhadas no mesmo talhão em cada safra.
Segundo o IBGE (2017), ainda existe uma parcela de produtores que não usam o sistema de PD, por isso, é importante levar o conhecimento sobre esse método de produção e explicar a importância de seguir alguns passos para que seja possível garantir os benefícios que serão comentados abaixo, onde caso não seja seguido esses princípios a produtividade será menor do que a esperada.
Antes de comentar sobre as características e benefícios do SPD, é necessário aprender ou relembrar os outros tipos de cultivos existentes e entender seus conceitos, como o que é plantio direto, para que fique claro o quanto o produtor tende a ganhar com esse cultivo se seguir todos os fundamentos necessários para obter a máxima produção esperada.
Tipos de sistema
Existem 3 tipos de sistemas de cultivos bem conhecidos que são:
-Plantio Convencional
Para começar o plantio primeiro é usado o arado ou grade pesada para descompactar a superfície do solo e eliminar as plantas daninhas. Neste momento é feito a incorporação do calcário ou adubo. O segundo processo visa destorroar e nivelar a camada arável do solo. Já o terceiro processo consiste em fazer novamente a gradagem, caso seja necessário.
Dessa forma notamos que o uso desse sistema é mais trabalhoso, e ainda gera gastos com combustível e com o desgaste de trator e implementos, já que exige mais trabalho no preparo do solo. Pode-se dizer que esse sistema destrói os restos vegetais e perde grande parte da matéria orgânica presente na área, através da exposição do solo ao sol e ao tempo. Essa ação é prejudicial, pois afeta as qualidades biológica, química e física do solo. A matéria orgânica tem um papel importante para a produtividade, então esse método é o menos recomendado, já que acaba consumindo a matéria orgânica presente na área.
Plantio Mínimo
No cultivo mínimo acontece menos revolvimento de solo. Apenas é revolvido o solo no local onde será plantado, não revolvendo as entrelinhas. Usa-se a gradagem leve, mas também a escarificação, dependendo da necessidade. O cultivo mínimo é recomendado somente se o solo não estiver compactado, não necessitando de calagem, gessagem ou mesmo não tendo a presença de plantas daninhas. Nesse sistema, a palhada é mais conservada, no entanto ainda se tem o revolvimento do solo na linha de plantio, sendo assim menos interessante já que irá perder parte dos restos vegetais presentes nessa área.
Plantio Direto
O plantio é realizado sem o revolvimento do solo, dessa forma é mantido a cobertura do solo, cobertura essa que possui um papel fundamental nesse sistema. A rotação de culturas faz parte do SPD, exercendo principalmente uma maior importância no solo. Por isso, esse sistema mantém a palhada, conservando mais a matéria orgânica.
Nesse sistema de cultivo somente é usado a plantadeira, não requerendo o uso de arado, gradagem, ou qualquer outra atividade de revolvimento no solo. Nesse sistema é importante que o solo esteja sempre com cobertura, protegendo o mesmo dos impactos das gotas da chuva e das altas temperaturas, criando um ambiente favorável para a próxima cultura. Uma das vantagens dessa cobertura é a de produzir massa seca residual, que irá liberar aos poucos matéria orgânica e nutrientes ao solo.
O Sistema Plantio Direto tem princípios que devem ser seguidos, porque é seguindo esses princípios que os benefícios serão alcançados. O SPD trás economia de tempo pois não necessita de preparo do solo, como acontece em outros sistemas. além de produtivo é também ambientalmente sustentável, pois é um sistema que realiza a ciclagem e fixação de nutrientes, além de manter o carbono dos restos vegetais, visto que não á revolvimento.
Entendendo um pouco mais do Sistema Plantio Direto
O Sistema Plantio Direto é um sistema planejado, que visa ser mais produtivo através de ações mais sustentáveis. Portanto é um modo de produção que demonstra que sistemas sustentáveis são sistemas mais produtivos e econômicos, visto que o plantio direto com o tempo, utiliza menos insumos, como por exemplo usando menos herbicidas e adubos, devido a ciclagem e fixação de nutrientes.
O uso de SPD como dito, tem grandes vantagens tanto em sustentabilidade ambiental (promovendo maior equilíbrio biológico no solo) como também econômico (economizando dinheiro e poupando tempo). Para ter esses ganhos é importante entender que existem bases, leis, ou princípios que precisam ser seguidos e respeitados.
Assim o SPD tem três princípios fundamentais que necessitam ser seguidos: não revolver o solo; manter a cobertura do solo e a rotação de culturas. O que muitos ainda não sabem é que a rotação exige mais que duas culturas anuais em cada safra. todos esses pilares tem a mesma importância para perfeita funcionalidade do SPD.
Assim, os princípios fundamentais:
Não revolvimento
Revolver o solo ocasiona a perda do seu equilíbrio biológico, deixando-o mais suscetível a erosão, bem como a perda de nutrientes (cálcio, cobre, enxofre, ferro, manganês, nitrogênio, potássio e zinco), juntamente com a matéria orgânica seria consumida por microrganismos. Com isso, observamos como a matéria orgânica tem características que permitem com que o solo nas camadas acima seja mais fértil, onde concentra-se a maior parte das raízes das plantas.
Podemos ressaltar que com a perda da matéria orgânica pode levar ao aumento da acidez presente no solo, pois a matéria orgânica é capaz de criar um ambiente favorável para as micorrizas, que são fungos interagem de forma simbiótica com as raízes das plantas. Esta interação permite o aumento da área de contato da raiz e, consequentemente, contribuindo para uma maior e eficiente absorção de nutrientes.
A matéria orgânica (M.O.), é consumida pelos microrganismos de forma mais lenta quando não á revolvimento do solo. Desta maneira a M.O. pode disponibilizar para as raízes, de forma mais lenta, os nutrientes presentes em sua composição.
Uma das consequências de se utilizar o SPD a longo prazo é a compactação superficial do solo devido ao não revolvimento do solo.
Cobertura do solo
A cobertura vegetal do solo cria um microclima que age positivamente sob a semente e também sobre a planta em desenvolvimento. Isso contribui com uma temperatura no solo mais estável. Um solo sem palhada tende a apresentar altas temperaturas e isso faz com que a umidade presente no mesmo seja perdida. Dessa forma solos com uma camada maior de restos vegetais (palhada) armazena mais água e possuem uma temperatura mais favorável ao desenvolvimento de plantas nos períodos de estiagem.
Os restos vegetais também impedem que ocorra um maior desenvolvimento de plantas daninhas. Um ponto importante em manter o solo coberto é que justamente a massa seca residual que cobre o solo é a responsável por repor sua matéria orgânica (MO). Como comentado acima, sabemos a importância de repor a matéria orgânica no perfil do solo devido a benefícios químicos e biológicos.
A cobertura do solo é capaz de diminuir a compactação visto que a palhada tem características como ter baixa densidade, possuindo elasticidade e susceptibilidade a deformação o que diminui a compactação do solo pelo tráfego de máquinas. A palhada permite distribuir o peso da roda de tratores e implementos aumentando a área de contato sobre o solo.
Rotação de culturas
Cada tipo de cultura tem uma forma de distribuir o seu sistema radicular no solo, essa distribuição faz com que o solo seja explorado tanto em largura, por raízes fasciculares (como a de capins), e em profundidade por raízes pivotantes (como a de nabo ou café).
Ainda podemos ressaltar que após a planta fechar seu ciclo de vida, as raízes em decomposição além de propiciar a descompactação ocorre a fertilização do solo em profundidade, dessa forma criando camadas mais baixas de exploração para a próxima cultura, resultando em maior produtividade, já que a área explorada pela raiz é maior.
Cada tipo de cultura tem um benefício para o solo, como as culturas que visam uma maior produção de massa seca residual (braquiárias de maneira geral), outras com o objetivo de fixação de nutrientes (Cajanus cajan), ciclagem de nutrientes (Lupinus albus), descompactação do solo (Raphanus sativus), eliminação de doenças (Crotalaria spectabilis). Utilizar a rotação de culturas proporciona o aumento do número de inimigos naturais, o que beneficia a lavoura e ocasiona um maior equilíbrio ambiental.
É na rotação de culturas que alguns agricultores tem errado muito, pois essa é uma ferramenta que contribui muito para a formação de perfil do solo tanto em superfície como em subsuperfície. É através da rotação de culturas que muito dos problemas enfrentados por agricultores podem ser sanados. É com o uso de outras culturas que diminuímos a incidência de doenças, pragas, problemas com compactação de solo, acidez e falta de fertilidade em profundidade.
Implantação do Sistema Plantio Direto
No momento da transição de um cultivo convencional ou um cultivo mínimo para o Sistema Plantio Direto é necessário corrigir problemas físicos e químicos que ainda estão presentes no solo. Como no SPD não ocorre o revolvimento do solo, recomenda-se a correção química, com a calagem, o que vai permitir manter o pH ideal para as plantas em superfície e principalmente em subsuperfície. Realizar a calagem antes de entrar com o SPD é necessário, visto que o cálcio é um nutriente imóvel no solo portanto é preciso realizar a sua incorporação.
A correção física pode ser feita no mesmo período da correção com calagem, proporcionando um solo mais favorável ao desenvolvimento das raízes em profundidade. Mesmo que algumas culturas sejam capazes de minimizar a compactação, dependendo de seu grau, torna-se necessário a descompactação mecânica, de preferência a escarificação, visando não levar o problema de compactação para o SPD.
Outro fator para se ter atenção é no planejamento das plantas que irão constituir a rotação de cultura, desse modo é essencial escolher a cultura de interesse econômico principal, como por exemplo algodão, soja, milho ou outra cultura de interesse. Partindo desse ponto, as culturas complementares criarão um ambiente propício para a cultura principal, seja produzindo uma camada de restos vegetais ou seja produzindo matéria orgânica com a intenção de melhorar as partes química, física e biológica nos perfis do solo.
Durante o desenvolvimento da cultura é preciso ver e analisar como a área está, se existe cobertura no solo suficiente, ou através de uma análise de solo, se o mesmo está com baixa quantidade de matéria orgânica. Isso é importante para que seja tomada a escolha de qual cultura será empregada na área. Dessa forma é possível decidir se irá ser usada uma cultura que forme palhada, que cicle nutrientes ou que ajude na decomposição da matéria orgânica.
Através dessa ressalva, deve ficar bem claro que não há uma receita de bolo para escolher os tipos de vegetais que serão utilizados na rotação de culturas, visto que cada vegetal tem uma forma de contribuir para o sistema, ficando evidente que a cobertura vegetal deve ter um objetivo para ser implantada na área.
Como descrito no texto acima, fica claro que o SPD é um sistema mais produtivo e sustentável, isso porque ele cria um ambiente favorável ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Caso queiram aprofundar mais sobre o assunto separamos alguns links que estão nas referências desse artigo.
Referências:
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EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Milho: Preparo convencional do solo. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/milho/producao/manejo-do-solo-e-adubacao/sistema-de-manejo-do-solo/plantio-convencional
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censos 2017.Características gerais das produções agropecuária e extrativista, segundo a cor ou raça do produtor e recortes territoriais específicos. 2022. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017/caracteristicas-gerais-das-producoes-agropecuaria-e-extrativista
Passos, A.M.A. et al. Sistema Plantio Direto. In: NOBRE, M.M.; OLIVEIRA, I.R. de (Ed.). Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação. Brasília: Embrapa, 2018. Cap. 3, p.61-104. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/1101765
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Trecenti, R. Sistema de plantio direto. Jornal Dia de Campo. 2009. Disponível em: http://diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp?id=20779&secao=Colunas%20e%20Artigos
